desafiar o tempo com a brevidade
ou, também, sobre: escrever poesia.
A poesia é a forma literária que mais confia na palavra e, ao mesmo tempo, a que mais resiste a ela. Ao escrever um poema, comprimimos o mundo em versos. Em poucas linhas, tentamos capturar o que parece inefável: uma emoção, um instante, uma ideia.
Adiamos o indizível. Cercamos sentimentos com palavras, tentamos tocá-los à distância, como quem rodeia um espelho com medo do reflexo. Na poesia, essa tensão é ainda mais evidente: o que escrever, quando a palavra nunca alcança a exatidão do que precisa ser dito?
“E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.”
A poesia é feita de aproximações. Um verso de um poema tenta captar o instante, mas logo se desfaz. O ritmo, a escolha de uma rima ou a quebra da linha desenham o que não pode ser nomeado. E, mesmo assim, tentamos. Porque escrever poesia é insistir na impossibilidade, é acreditar que o que sobra ou o que falta é tão importante quanto o que foi dito.
Isso porque a Poesia, com p maiúsculo, como quintessência, não pretende ser definitiva. Ela se desdobra, como em Poema Sujo, de Ferreira Gullar, em que a palavra vira memória e desejo. Ou em Tabacaria, de Fernando Pessoa, em que cada verso expõe uma nova camada de dúvida e revelação.
Na prática, a poesia desafia nosso senso de completude. Porque ela nunca termina. É sempre uma tentativa, um gesto inacabado, um espaço aberto para o leitor preencher com sua própria experiência.
Sobre poemas e poesias:
Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud
Uma temporada no inferno é o relato em prosa poética do homem perscrutando as suas profundezas e origens. Os textos deste livro visitam sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede de conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido.
Uma imersão online, num sábado, para despejarmos no papel o que há de poético em nós. É no dia 19 de abril, das 10h às 13h. Ou assine o percurso completo com mais dois encontros, até junho: além de Poema&poesia, Memória e Oulipo — para descobrir novas potencialidades da linguagem e modernizar a expressão através de jogos de escrita.
Até a próxima,
ESCRI.




